Mercedes C63 Blasck Series X Pombo Correio


 Publicado em 30-11-12 às 09h32 por Car and Driver

São 1.710 kg de aço e alumínio contra 425 gramas de penas e ossos

 Mercedes C63 

por Carlos Cereijo / Fotos: Leo Sposito - publicado na edição nº 58 (out/2012)

São 9h35 da manhã e a largada foi dada. Estou em Limeira, interior de São Paulo, para encarar uma disputa até um pombal na Zona Leste da capital paulista. Para mim, serão 161 km ao volante do Mercedes-Benz C63 Black Series; para meus oponentes alados, serão duas horas de voo fugindo de gaviões e correntes de ar. Isso mesmo: vamos desafiar pombos-correio!

pombo x piloto 

Treze pombos estão inquietos dentro da gaiola. Eles já perceberam que estão longe de casa. O instinto de orientação, refinado há milhares de anos pela natureza, faz as aves buscarem referências fora da jaula. Pombos-correio sempre procuram o caminho até o pombal onde nasceram. Pesquisadores até hoje não descobriram ao certo como isso é possível. Há teorias sobre olfato, campos magnéticos da Terra, uso do Sol e até de referências de relevo. Pelas dúvidas, antes da largada, peguei o pombo mais nervoso e mostrei o GPS do Mercedes – seria uma vantagem a mais para as aves nesta disputa.

Há indícios de pombos usados para comunicação no Egito antigo, há 4 mil anos. Os penados levaram à Grã-Bretanha a mensagem da derrota de Napoleão Bonaparte em Waterloo, em 1815. Na I Guerra Mundial, o pombo Cher Ami recebeu até medalhas. A informação que ele carregava salvou mais de 500 homens das Forças Aliadas. Mesmo ferido, cego e sem uma pata, cumpriu seu dever. Hoje está empalhado no Museu de História Americana, em Washington, EUA. 

 MB C63MB C63

Corrida apertada

Geraldo Spuras, columbófilo desde 1967 e dono dos pombos deste desafio, estima que as aves vão demorar duas horas para ir de Limeira a São Paulo, mesmo tempo calculado pelo GPS do Black Series: 1h59 m. Pelo menos estou com a ferramenta certa: o Classe C mais rápido de todos os tempos.

O motor V8 6.2 gera 517 cv, isso é suficiente para abrir um buraco no chão antes mesmo de a segunda marcha entrar. E é desta maneira que começamos a corrida. O Black Series ganha a rodovia e vai devorando o asfalto. A cada troca de marcha, o som do V8 invade mais a cabine; nas desacelerações fortes, o escape dá um estampido viciante. Sim, fiquei abusando dessa brincadeira e consegui dois resultados: primeiro, me diverti pra caramba e, segundo, tive de parar para reabastecer antes do planejado.

Motorista

O estilingue foi uma tentativa de ganhar vantagem, mas os adversários estavam 400 m acima de nós. (A foto é ilustrativa: o único animal molestado nesta reportagem foi nosso repórter)

Um tempinho para apreciar o interior do cupê. O toque esportivo está nas costuras vermelhas e nos bancos tipo concha. Como um digno Mercedes-Benz, o conforto não foi sacrificado por completo. Porém, o acerto de suspensão é firme no modo Sport. Perfeito para a estrada e curvas rápidas, mas uma cadeira elétrica para o piso machucado das cidades brasileiras.

 Pedágio

Para me atrasar mais, havia os pedágios. A parte boa era poder acelerar na saída e ouvir o Black fazer a alegria dos curiosos.

Até agora estou no prazo. O C63 vai abrindo caminho no tráfego. À minha cabeça vem a imagem dos pombos lá em cima, enfrentando rajadas de vento e predadores. Eu e o Mercedes-Benz estamos nos entendendo bem. A direção é confortável no modo Comfort e nervosa no Sport+. O mapeamento do acelerador também muda, tem respostas rápidas. É como ter um canhoneiro sob o capô: ele sente seu pé direito e grita “Fogo!”. Uma pancada é o que vem em seguida, finalizando com uma troca de marcha em 100 milissegundos.

 

Acho que estou na liderança, mas a pior parte da corrida se aproxima . Vou entrar na Marginal Tietê e enfrentar o trânsito aglutinado da capital. Este não é o habitat do C63.

Caminhões e utilitários menores fazem um balé dos infernos nas faixas da direita. Um ou outro mal-educado toma a faixa da esquerda para si e está armada a confusão. E há, é claro, os motoboys. Posso até ouvir o arrulho das pombas (todas da espécie Columbo Liva) ultrapassando o carro pelo alto. O limite de 90 km/h é um desperdício para o Black Series. A carroceria cheia de entradas de ar e recortes, o pacote aerodinâmico novo e o spoiler traseiro, tudo jogado fora nas vias apertadas da Zona Leste. São os últimos quilômetros do desafio e eu preciso honrar os Viciados em Carro e garantir meu emprego na revista. Uma curva para a direita e mais duas esquinas para a linha de chegada. Fim do desafio!

mapa

No mapa, em linha reta, são 127 km entre a largada em Limeira e o pombal, no bairro da Água Rasa, Zona Leste de São Paulo. Para o Black Series, seriam 161 km de asfalto. A velocidade máxima para o Mercedes foi de 120 km/h na Rodovia dos Bandeirantes. O pombo, perto dali, registrou mais de 122 km/h. Abaixo você confere as altitudes em que a ave esteve para vencer a corrida. Geraldo Spuras, dono dos pombos ligeirinhos, os chama carinhosamente de "Minhas McLarens".

 

MB C63

Bateu asas e voou

“Você chegou ao seu destino”, diz a voz do GPS. São 11h45 e o portão da casa de Geraldo Spuras está fechado.

 O AMG, agora com o motor calado, solta estalos metálicos. O Mercedes-Benz merece condecoração. Foi

corajoso. “O primeiro pombo chegou às 11h34”, comemorou Spuras. É verdade, fui batido por 11 minutos. Um

 passeio para essas aves, que podem voar até 900 km de distância em um único dia. Um rastreador via satélite

 na pata do mais rápido mostra números impressionantes (veja o mapa). Apelidamos o penado de Rennsport e

 juramos uma revanche. Saí da Zona Leste injuriado. E com desejo incontrolável de comer frango a passarinho.

 

Fonte:  Car And Driver – Inteligência, Independência, Irreverência

http://caranddriverbrasil.uol.com.br/carros/carros/especial/mercedes-c63-black-series-x-pombocorreio/3713

 

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